Outubro Rosa sempre me toca de um jeito especial.
Não só pela importância da prevenção — do autoexame, da mamografia, da atenção a qualquer sinal diferente no corpo — mas porque esse tema atravessou minha vida de um modo muito pessoal.
Quem já acompanhou alguém que enfrentou o câncer sabe: o tratamento não acontece só no corpo de quem adoece. Ele reverbera em todos ao redor — e, quase sempre, são outras mulheres que seguram esse cuidado.
Mães, filhas, irmãs, amigas. Mulheres que cuidam das consultas, das medicações, da comida, das palavras certas pra animar. Mulheres que sustentam o cotidiano e, no silêncio, carregam o medo, o cansaço, a ansiedade e a culpa de, às vezes, também querer parar um pouco.
Fala-se muito da prevenção do câncer de mama — e é essencial reforçar isso.
Quanto mais cedo o diagnóstico, maiores as chances de tratamento e cura. O SUS oferece mamografia gratuitamente, e qualquer mulher pode procurar a unidade de saúde mais próxima para agendar. O toque, o olhar atento e o acompanhamento médico salvam vidas.
Mas existe um outro cuidado que também salva — o cuidado com quem cuida.
Esse papel, que parece tão natural pra nós mulheres, tem um preço emocional alto e, muitas vezes, invisível. A rotina muda, o sono falha, o corpo adoece junto. E quase ninguém pergunta: “como você está lidando com tudo isso?”.
No SUS, já existem serviços de apoio psicológico e grupos de escuta em alguns centros oncológicos — mas ainda são poucos. Grande parte desse suporte acaba vindo de redes particulares, ou do afeto entre mulheres que se escutam e se acolhem mutuamente.
Por isso, neste Outubro Rosa, o convite é duplo:
Se toque. Se cuide. Faça seus exames.
E olhe também pra quem está cuidando. Pergunte se ela precisa de ajuda, se tem dormido bem, se tem alguém pra ouvir o que ela sente.
Cuidar é um ato de amor.
Mas o amor verdadeiro também precisa se lembrar de incluir quem o oferece.
Texto: Thaize Amparado (CRP 04/61853)
@psicothaizeamparado
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